Esse é um clássico da literatura brasileira que todo mundo
deveria ler. “O cortiço” é um estudo sociológico de um grupo de pessoas vivendo
em situação de vulnerabilidade. Poderia, perfeitamente, ser adaptado à vida que
muitos levam em favelas e ocupações nas grandes cidades hoje.
Aluísio Azevedo tinha toda uma técnica para escrever. Ele
chegou a fazer maquetes do cortiço em torno do qual a história acontece. Tratava
seus personagens como cobaias, com uma boa dose de frieza e indiferença em
alguns momentos.
“E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade
quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma
coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e
multiplicar-se como larvas no esterco.”
Por outro lado, o autor esbanja sensibilidade e chega a ser
poético ao tratar de um tema que até hoje é frequentemente visto como um tabu,
que é a menstruação. Até hoje, o sangue menstrual é representado por um líquido
azul nos comerciais de absorvente, por exemplo. E em 1890 o autor de “O
cortiço” assim descreveu esse momento na vida da personagem Pombinha:
“Nisto, Pombinha soltou um ai formidável e despertou
sobressaltada, levando logo
ambas as mãos ao meio do corpo. E feliz, e cheia de susto ao
mesmo tempo, a rir e a
chorar, sentiu o grito da puberdade sair-lhe afinal das
entranhas, em uma onda vermelha
e quente.”
E ele continua:
“A natureza sorriu-se comovida. Um sino, ao longe, batia
alegre as doze badaladas
do meio-dia. O sol, vitorioso, estava a pino e, por entre a
copagem negra da mangueira,
um dos seus raios descia em fio de ouro sobre o ventre da
rapariga, abençoando a nova
mulher que se formava para o mundo.”
Nos dias atuais, o assunto é um grande tabu, por mais absurdo que isso possa soar. Parece que andamos para trás. É claro que existem artistas de
diferentes áreas que se expressam a respeito da menstruação e até militam para
que ela deixe de ser vista como algo nojento, impuro, sujo. É o caso da poeta
Marina Colasanti, que escreveu o seguinte poema:
“Eu Sou uma Mulher
Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.
Os homens vertem sangue
por doença
sangria
ou por punhal cravado,
rubra urgência
a estancar
trancar
no escuro emaranhado
das artérias.
Em nós
o sangue aflora
como fonte
no côncavo do corpo
olho-d’água escarlate
encharcado cetim
que escorre
em fio.
Nosso sangue se dá
de mão beijada
se entrega ao tempo
como chuva ou vento.
O sangue masculino
tinge as armas e
o mar
empapa o chão
dos campos de batalha
respinga nas bandeiras
mancha a história.
O nosso vai colhido
em brancos panos
escorre sobre as coxas
benze o leito
manso sangrar sem grito
que anuncia
a ciranda da fêmea.
Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.
Pois há um sangue
que corre para a Morte.
E o nosso
que se entrega para a Lua”.
Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.
Os homens vertem sangue
por doença
sangria
ou por punhal cravado,
rubra urgência
a estancar
trancar
no escuro emaranhado
das artérias.
Em nós
o sangue aflora
como fonte
no côncavo do corpo
olho-d’água escarlate
encharcado cetim
que escorre
em fio.
Nosso sangue se dá
de mão beijada
se entrega ao tempo
como chuva ou vento.
O sangue masculino
tinge as armas e
o mar
empapa o chão
dos campos de batalha
respinga nas bandeiras
mancha a história.
O nosso vai colhido
em brancos panos
escorre sobre as coxas
benze o leito
manso sangrar sem grito
que anuncia
a ciranda da fêmea.
Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.
Pois há um sangue
que corre para a Morte.
E o nosso
que se entrega para a Lua”.
Também é o caso da artista plástica e fotógrafa Vanessa
Tiegs, que fez as pinturas que aparecem no vídeo com o próprio sangue
menstrual, na série chamada de Menstrala:
Nenhum comentário:
Postar um comentário