quinta-feira, 16 de junho de 2016

Livro 16 - Memórias de uma infâmia

Comprei o livro de Lydia Cacho, “Memórias de uma infâmia”, por acaso. Dei uma olhada na contracapa e a história de uma jornalista em sua luta contra a pedofilia e a pornografia infantil no México me interessou. Em parte, porque acabara de ler “Spotlight – Segredos Revelados”, que me causou náuseas e um incômodo muito grande sobre esse tipo de abuso contra crianças.
As histórias desses dois livros têm muitos pontos em comum. O principal deles é a conivência e a cumplicidade de autoridades, que em ambos os casos empreendem esforços para que os crimes sejam varridos para debaixo do tapete. Outro aspecto comum às histórias são as tentativas de intimidação dos jornalistas determinados a revelar os crimes.
Também em Spotlight, a equipe do Boston Globe é intimidada em diversos momentos. É claro que no caso de Lygia Cacho, de forma muito mais enfática e cruel. Ela foi seqüestrada, torturada e estuprada a mando de políticos, empresários e policiais envolvidos na rede de pedofilia denunciada em seu livro. Depois de libertada, foi vítima de um atentado.
Em sua trajetória, não faltaram figuras repugnantes que não pouparam esforços para difamá-la e proteger uma poderosa rede de pedofilia e pornografia infantil que, a partir de Cancun, no México, se estendia para outros países do mundo. O poder deles era (possivelmente ainda é) tão grande que contava com a cumplicidade de um governador e de representantes da justiça mexicana.
Apesar de todas as dificuldades e da infâmia que enfrentou, Lydia Cacho manteve-se firme e não desistiu. De acordo com ela, sua luta é pelas meninas e pelos meninos abusados. Surpreendentemente, ela conseguiu manter-se otimista em meio a tanta podridão, como escreveu em seu diário após uma das inúmeras averiguações psicológicas às quais precisou se submeter:
“Depois que meus olhos viram tanta miséria humana, examino meu coração - como se fosse uma cesta de maçãs vermelhas – em busca da esperança fresca e doce. Eu a conheço. Mesmo que me persigam lá fora, aqui, em minha alma, há paz, paz que se nutre de minha persistência, de minha determinação. A verdade é perdurável, o medo é perecível. Minha fortaleza e meu poder repousam em aceitar a realidade e revelá-la tal como é.”
O caso das violações dos direitos humanos da autora teria ficado por isso mesmo, se não fosse o envolvimento de artistas, jornalistas e intelectuais de todo o mundo, que enviaram às autoridades mexicanas um abaixo-assinado solicitando providências. Entre os signatários estava o cineasta Inarritu, diretor do filme “O Regresso”, que concorreu ao Oscar 2016.
No entanto, a leitura desse livro me fez lembrar de outro filme, que conta a história de outros dois jornalistas, empenhados em denunciar a violência sistemática contra mulheres em Juarez, na fronteira do México com os Estados Unidos. Com participação de Jeniffer Lopez e Antonio Banderas, “Cidade do silêncio” é baseado em fatos reais que corroboram as dificuldades em enfrentar crimes no país que tenham como cúmplices os poderes político e econômico. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário